Entregador de Marmitas

“Inútil”. Esta é a opinião da italiana Autosprint sobre Felipe Massa na Ferrari, após o fraco desempenho do piloto brasileiro no último final de semana no Grande Prêmio da Austrália. Ainda segundo a publicação italiana, a Ferrari deveria buscar um substituto para Massa não ao final da temporada, mas o quanto antes.

Nenhuma novidade que, neste ano, em seu último de contrato com a Scuderia, a pressão sobre o piloto brasileiro por resultados expressivos seria enorme. Esta pressão sobre Massa apenas aumenta quando, dividindo a mesma equipe, há um piloto como Fernando Alonso. O desempenho extremamente distinto de ambos durante o GP Australiano, com Alonso em quinto e Massa lutando no fim do pelotão, foi o estopim para a eloquente imprensa italiana intensificar a fritura sobre Felipe.

Para a Autosprint, Sérgio Perez e até mesmo o recém aposentado Jarno Trulli seriam nomes para substituir Massa em caráter imediato. O piloto mexicano da Sauber, Sérgio Perez, é um dos favoritos para efetivamente ocupar a vaga do brasileiro na Ferrari em 2013, e seu excelente domingo na Austrália, de último para oitavo, apenas reforçou a impressão positiva sobre ele. Porém, ser especulado o nome de Jarno Trulli, de último destaque no distante ano de 2004, apenas demonstra o decadente prestígio de Massa atualmente.

A Ferrari anunciou, por sua vez, que Massa usará um novo chassi neste final de semana, na Malásia, para identificar possíveis mudanças de comportamento do carro em comparação com o que houve em asfalto australiano. Para o brasileiro, esta mudança tem duas possibilidades: o novo chassi pode ser a salvação, ou o contrário.

Em caso de bom desempenho, o chassi utilizado na abertura do campeonato ficará momentaneamente com a responsabilidade. De qualquer forma, a pressão sobre Massa apenas aumentou: em caso de novo fracasso em comparação com Alonso, que na Austrália foi além das possibilidades do carro, Massa não terá a quem culpar. E sua campanha publicitária para o Santander em que entrega marmitas pilotando uma van não poderia vir em pior hora…

A Volta de Kimi: Recorde de Campeões

Com o anúnico do retorno de Kimi Raikkonen, pela primeira vez uma temporada da F-1 reunirá seis campeões: além do finlandês, o hepta Michael Schumacher, os bicampeões Sebastian Vettel e Fernando Alonso e os detentores de um título Lewis Hamilton e Jenson Button.

Além disso, a F-1 terá em 2012 todos os campeões da última década (e do século, obviamente). Schumacher (2000-2004), Alonso (2005-2006), Kimi (2007), Hamilton (2008), Button (2009) e Vettel (2010-2011).

A longevidade de Michael Shumacher colabora para a obtenção desta marca, claro, mas é uma curiosidade que comprova outro fato da F-1 recente: a limitação de testes mantêm os veteranos na categoria e possibilita a concentração dos títulos – nestes últimos doze anos, apenas seis pilotos conquistaram todos os títulos.

Pilotos: Pedro de la Rosa

Com o campeonato de 2011 decidido, o que tem movimentado a Fórmula-1 nos últimos meses são as especulações de bastidores envolvendo os pilotos. Nomes como Rubens Barrichello e Kimi Raikkonen são cotados em quase todas as equipes médias e pequenas do grid. Ontem, quando Pedro de la Rosa foi anunciado como titular da Hispania para 2012 e 2013, houve uma certa surpresa.

Aos 40 anos, com boa parte de sua carreira como piloto de testes da McLaren, poucos (mentira, ninguém) se lembravam do espanhol e o cotavam para uma vaga como titular. Atualmente, a Hispania conta com o australiano Daniel Ricciardo e o italiano Vitantonio Liuzzi como titulares, mas não informou qual deles perderá o posto. Seguindo a lógica, Liuzzi é o mais provável desempregado.

Antes da F-1
Pedro de la Rosa iniciou sua carreira no Kart apenas aos 17 anos. Antes de iniciar a carreira como piloto, o espanhol sagrou-se campeão Europeu “pilotando” carros off-road de controle-remoto, em 83 e 84, sendo vice-campeão mundial em 1986, então com 15 anos.

Após o início no Kart, onde permaneceu por apenas um ano, de la Rosa perambulou por diversas categorias antes da F-1: Formula Fiat Uno e Formula Ford 1600 na Espanha, Formula Ford 1600 na Inglaterra, Formula Renault na Espanha, Formula Renault na Inglaterra e partiu para o Japão onde foi campeão da Formula 3 em 1995 e da Formula Nippon em 1997. Apenas em 1998, aos 27 anos, assinou como piloto de testes para a Jordan e chegou à F-1.

Jordan, Arrows e Jaguar
A temporada de 1998 foi de espera para Pedro, sendo pilotos de testes da Jordan. Abre Parênteses: Naquele ano, a dupla titular era formada por Damon Hill e Ralf Schumacher, em um período em que a equipe vivia seu auge: Hill e Ralf fizeram dobradinha em Spa, em uma das corridas mais malucas da história da F-1, e a Jordan ocupou o quarto lugar nos Construtores naquele ano. O ano seguinte, 1999, foi ainda mais glorioso: Frentzen ocupou a vaga de Ralf, venceu na França e na Itália e foi ao pódio outras quatro vezes, terminando o campeonato em terceiro. Fecha Parênteses.

Em 1999, Pedro correria pela Arrows, formando dupla com o japonês Toranosuke Takagi. Em sua estréia, no GP da Austrália, Pedro de la Rosa marcou seu primeiro ponto, tendo largado em 18º e chegado no 6º lugar, graças a uma série de abandonos, com apenas 8 dos 22 carros chegando ao final. O carro da Arrows pecava pela confiabilidade, e o espanhol completou apenas mais 4 GPs até o final da temporada. A temporada seguinte, com Jos Verstappen como parceiro, foi um pouco melhor, tendo marcado dois pontos, com dois sextos lugares nos GPs da Europa e Alemanha, e completando apenas mais quatro corridas. Verstappen teve desempenho melhor, com cinco pontos e sete GPs completos.

Seu período na Arrows encerrou-se, e Pedro assinou por duas temporadas com a Jaguar, que havia comprado a Stewart e descarregado cifras enormes na equipe, que fazia parte do plano de marketing da montadora de promover seus carros no mercado Premium. Foi um dos maiores fracassos da história da F-1, e o piloto espanhol pouco fez em seus dois anos na Jaguar: três pontos em 2001 (6º no Canadá e 5º na Itália) e nenhum em 2002. Seu contrato não foi renovado, e Pedro então iniciaria sua jornada na McLaren.

McLaren
O espanhol uniu-se a McLaren em 2003 como piloto de testes, em um período em que as equipes testavam seus carros à exaustão. Em 2005, substituiu o lesionado Juan Pablo Montoya no GP do Bahrain, chegando em 5º após largar em 8º.

No ano seguinte, Pedro novamente substituiu Montoya, desta vez definitivamente após a saída do colombiano para a Nascar. De la Rosa disputou as últimas oito provas do calendário, tendo marcado 19 pontos e obtido o melhor resultado de sua carreira, seu único pódio conquistado após o segundo lugar no GP da Hungria. Em uma temporada em que a McLaren não venceu nenhum GP (Alonso e Schumacher venceram 14 das 18 etapas, e apenas na Hungria a equipe vencedora não foi a Renualt ou a Ferrari. Foi Jenson Button, de Honda), Pedro igualou os segundos lugares de Montoya em Monaco e Raikkonen na Austrália e Itália.

Os bons resultados não foram suficientes para garantir uma vaga como titular da McLaren, que preferiu modificar totalmente sua dupla escolhendo Fernando Alonso e outro de seus pilotos de testes, Lewis Hamilton. Foi um ano traumático, para ser generoso. De la Rosa esteve próximo de voltar a guiar como titular pela Prodrive, equipe que estrearia em 2008 com suporte da McLaren, mas a equipe não foi aprovada no “vestibular” da FIA pelo uso de carros de outro construtor, no caso a McLaren, regra que seria implementada justamente naquela temporada.

A temporada da McLaren ruiu na Hungria, no famoso episódio em que Alonso bloqueou Hamilton nos boxes. Foi apenas a declaração pública do ambiente terrível da equipe inglesa naquele ano, que culminou com a revelação do escândalo de espionagem envolvendo informações técnicas e setups da Ferrari que a McLaren obteve. Após o bloqueio de Alonso, Ron Dennis procurou seu então piloto, e ouviu de Fernando a ameaça de que ele enviaria para a FIA e-mails trocados com Pedro de la Rosa e Mike Coughlan, um dos pivôs da espionagem, que incriminariam a McLaren.

Os e-mails foram decisivos na punição da McLaren, que perdeu os pontos conquistados naquele ano e recebeu uma multa de U$100 milhões.

Enquanto seu compatriota deixou a McLaren após o título de Kimi Raikkonen, conquistado graças ao duelo interno da equipe inglesa, Pedro de la Rosa seguiu em seu posto de piloto de testes e foi eleito presidente da GPDA, a Associação dos Pilotos de Grandes Prêmios, posições que seguiu ocupando até 2009.

Sauber
Pedro de la Rosa foi confirmado como titular da Sauber para 2010, formando a dupla com Kamui Kobayashi, que havia impressionado após ocupar a vaga do lesionado Timo Glock na Toyota nas duas últimas provas de 2009. O espanhol disputou 14 provas, marcando pontos apenas com um sétimo lugar na Hungria.

Com desempenho muito melhor, Kobayashi marcou pontos em oito oportunidades, tendo em vista que chegou ao final de apenas outros três GPs. De la Rosa foi substituído por Nick Heidfeld nas últimas cinco provas, e o alemão marcou os mesmos seis pontos de seu antecessor. Para o espanhol restou o posto que era até então de Heidfeld, o de piloto de testes para a Pirelli.

McLaren e Sauber, parte 2
Mesmo com a proibição de testes, a McLaren novamente contratou Pedro de la Rosa para ocupar a vaga de piloto reserva em 2011. Após o acidente de Sergio Perez na qualificação do GP de Monaco, o espanhol retornou ao volante da Sauber no GP do Canadá, tendo chegado em 12º após largar em 17º.

O Retorno
O anúncio de Pedro de la Rosa como titular da Hispania rendeu homenagens da McLaren. Martin Whitmarsh deixou mais claro o papel do espanhol na equipe nos últimos anos: “A contribuição de Pedro para a McLaren tem sido de valor fantástico, talvez até mais valiosa do que aparentemente para os leigos, desde que ele se uniu a nós em 2003. Como piloto de testes, ele fez um trabalho extraordinário, na pista, e ultimamente, em nosso simulador, e seu feedback foram essenciais. Mas suas contribuições vão além disso: Pedro é um cara de equipe, tem grande presença motivacional em nosso time, e talvez por causa disso, ele é alguém que eu sempre contarei como um verdadeiro amigo”, elogiou Martin, deixando claro que sentirá a falta do espanhol nos trabalhos para a próxima temporada.

Sobre sua permanência na McLaren, Pedro afirmou: “Claro, o momento mais feliz na McLaren para mim foi, pessoalmente, ter completado o GP da Hungria de 2006 em segundo, mas também fiquei orgulhoso por ajudar Lewis Hamilton e a equipe a conquistar o título do Mundial de Pilotos, ajudando a equipe a desenvolver uma série fantástica de carros que venceram GPs durante minha permanência no time”, recordou.

“Este é um passo muito importante na minha carreira e uma das decisões mais bem pensadas. Estou em uma fase boa em termos de maturidade e preparado para assumir este desafio, que é algo que me motiva muito. Ao decidir aderir a esse projeto, levei em consideração três fatores: meu desejo de voltar às competições, o fato de que a Hispania é uma equipe espanhola, onde conheço todos, além de saber que Luis Perez-Sala faz parte desse projeto”, revelou.

Em seu comunicado, a Hispania afirma que a contratação do veterano é a consolidação do sólido projeto do time para o ano que vem, que passa por uma reforma estrutural com um novo quartel-general na Espanha. “Contar com Pedro de la Rosa para a próxima temporada será um pilar fundamental no desenrolar de nosso projeto. Somos uma equipe jovem que precisa seguir avançando e, com esta incorporação, estou convencido de que vamos fazer isto. Além do mais, é uma grande pessoa e um grande profissional. Seu prestígio na Fórmula 1 demonstra isso”, disse o chefe da Hispania, Colin Kolles.

Levando em consideração o fato da Hispania ter sido, nestas duas temporadas de existência, uma equipe mais próxima da GP2 do que da F-1, é difícil imaginar uma enorme revolução para 2012. A experiência de Pedro por seus anos de McLaren poderá ajudar a Hispania a diminuir o abismo para as demais equipes, a começar pelas demais “pequenas” Marussia e Catherham. Imaginar algo além disso é, basicamente, utopia.